quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Escrevendo a saudade


 E em nossas conversas, falávamos sobre a saudade. Conversávamos sobre um futuro distante, um tempo que nem o tempo saberia determinar. Choramos várias vezes juntas, com medo de que o tempo fosse breve demais. Com medo de que o escuro penetrasse em nossas vidas e então as lembranças fossem arrastadas devagarinho, assim como as ondas arrastam os grão de areia, apagando quase por completo as marcas feitas na praia. Eram conversas bobas, conversas que sempre surgem deliberadamente. Nós duas sabíamos que aquelas coisas não iriam acontecer tão de repente, tão já, tão depressa. Isso confortava. Tanto a mim, quanto à ela. Confortava e nos dava mais tempo uma ao lado da outra. Enquanto juntas, revelamos os segredos mais escondidos, fizemos coisas que as pessoas duvidariam. Conversamos tanto. Rimos tanto. Choramos tanto. Nos abraçamos tanto. Mas não foi o suficiente. Na verdade nunca é o suficiente. Ao ver o seu rosto calmo e sereno deitado sobre as flores, suas mãos tão suaves levando, agora, somente a sentença de que uma vida longa a esperava no fim de tudo. Seus olhos fechados significavam para mim a tristeza de nunca mais poder olhar pra dentro de sua alma e poder enxergar o que ela era de verdade, sem aquela pele tão machucada pelo tempo. Pra mim aquele filme era irreal. Era como ver uma nuvem perfeita, que formava a figura mais graciosa, se dissipando com o vento. Era como ler a história mais bela, desvendar os seus segredos, conhecer todos os personagens e ter de abandoná-lo rispidamente, sem estar esperando, ao passo que jamais poderá saber o final, nunca mais poderá conversar com aqueles personagens novamente. O meu coração se apertou, os meus lábios ficaram secos, a escuridão me abraçou, e de repente,  eu já não conseguia imaginar a minha vida posteriormente. As sombras da saudade já estavam se apoderando de mim e a única coisa de que eu me lembrava era do quanto eu a amava e do quanto seria difícil viver sem ela comigo. A luz no final do túnel não existia nessa hora. 
 Lázaro foi ressuscitado, mas Jesus chorou antes disso. Eu pude sentir a tristeza amargurante, melancólica, arrasadora que penetrara a alma, que toma conta do coração de quem um dia perdeu alguém muito querido. Podia sentir os laços se soltando lentamente, enquanto a força encantadora do momento a levava para longe de mim. Tão longe que jamais eu poderia tocá-la novamente, escovar os seus cabelos, acariciar o seu rosto ou beijar a sua testa. Nós não sabemos nada da vida, até que ela te mostre que enquanto você não sabia nada, ela estava te tirando o tudo que existia. Aí então, você aprender a viver. Aprende a ser forte. Aprende que mesmo sem tudo, você ainda pode ser alguém. 
As horas passam, ora de vagar, ora depressa e mesmo assim, ainda parece que nunca terá um fim. A saudade me corrói, assim como um cupim escava a madeira para ali fazer a sua moradia. Deitar na cama e olhar pela janela o escuro da noite, é remoer o passado tão lindo e colorido que tive ao lado dela. Não sei mais o que fazer pra curar essa dor. A ajuda de Deus eu tenho. A força proveniente dEle eu também já tenho. Eu tenho tudo, só não tenho ela. Nunca mais. Pelo menos não agora. Não hoje. Nem amanhã. Enquanto a dor ainda se apodera de mim e as lágrimas teimam e gritam por sair, eu vou viver e lembrar dela. Lembrar do quanto ela me fez feliz. Do quanto eu aprendi com ela, em vida. O quanto me amou. Vou lutando contra a maré, sem deixar que as ondas me arrastem para o fundo. Para o fundo mais profundo e me prendam em sua escuridão e morte. Vou vivendo. E enquanto eu viver, falarei dela e mais ainda, a escreverei.

0 comentários:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...